São inúmeros os problemas que
afetam as organizações atualmente, mas um deles é, ao mesmo tempo, tão antigo
quanto atual, que interfere em toda dinâmica da empresa, e é traduzido pela
expressão ‘lidar com pessoas’. Contudo, cada tempo e cada sociedade tem
sujeitos próprios que devem ser tratados de forma própria. Isto nos convida a
refletir sobre duas questões: quem são os sujeitos atuais e como lidar com
estes sujeitos.
Bauman, sociólogo polonês,
radicado na Inglaterra, nos traz um novo conceito sobre o sujeito atual, que nos
possibilita apreender quem é este ser de que tanto se fala e se estuda hoje. O
sujeito líquido, advento da sociedade líquida é o termo cunhado pelo estudioso
para designar este homem pós-moderno que está em constante transformação e que
não tem uma forma (ou posição) fixa e delimitada. Seus estudam apontam as
angústias humanas decorrentes da busca incessante pela perfeição, pelos objetos
e pela felicidade.
Com o sujeito líquido, percebemos
que os vínculos são fluidos e, portanto, frágeis. O sujeito líquido não cria
relações estáveis, nem no âmbito particular, nem no profissional. As relações
amorosas, por exemplo, não se constituem na solidez e são facilmente
dissolvidas. Assim como, as relações de trabalho, que, aparentemente, não
possuem valores tais que forcem o sujeito a considerar algum tipo de
estabilidade.
Antigamente, as escolhas, os
comportamentos, os conceitos eram bem mais definidos e menos flexíveis. Hoje,
com o advento da tecnologia e da comunicação, que avassalam na pós-modernidade,
todos os conceitos, comportamentos etc são mais instáveis, volúveis, ou seja, a
transformação é constante. Algo que é hoje, amanhã pode já não ser.
A nova forma de conceber o mundo
é fruto da globalização que instaura o ilimitado, o mundo sem fronteiras. O
acesso à informação, à comunicação e ao consumo são marcas registradas neste
novo tempo.
A pós-modernidade nos traz a
complexidade de um sujeito em contínua transformação, ao mesmo tempo que nos
permite a facilitação dos acessos pela divulgação constante da norma do ‘tudo é
possível’. O excesso de consumo traz uma certa
ilusão de onipotência e premia o sujeito com uma depressão essencial, que
indica a insuportável existência na impossibilidade do consumir.
No
mundo atual os objetos são oferecidos de forma variada e em abundância, que
ultrapassam as barreiras da demanda. A estratégia é constituir demandas,
oferecendo objetos que passam a ser necessários quando aparecem.
Ao
mesmo tempo, que os objetos são variados, as identidades também são
diversificadas. Se, antigamente, tínhamos referenciais fixos de um ‘querer
ser’, tal como o pai, a mãe, um tio, um médico, hoje somos interpelados por
muitos estilos possíveis de ser. Neste contexto, os sujeitos atuais sofrem com
a necessidade de definir uma escolha, o que acaba gerando muita angústia e
dificuldade de amadurecimento, que ocorre em momento tardio.
O
sujeito é fluído, pode estar aqui e lá ao mesmo tempo, pode “conhecer o mundo
sem sair de casa”, mistura produções culturais e modos de vida. É um sujeito
que parece ter identidades líquidas, ou identidades com todos os grupos, que na
realidade não pertence totalmente a nenhum. A crise de identidade não está no
conflito com outras identidades diferentes, não está nas dificuldades em
aceitar o diferente. Está na não constituição de um si mesmo integrado.
Ora,
se o sujeito não é estável e seu movimento é sempre em busca de alguma coisa,
de forma rápida, pois este sujeito é impulsivo, como querer tratá-lo da mesma
forma como se fez com as gerações anteriores? Como acreditar que os mesmos
caminhos servirão para fazê-lo ‘vestir a camisa’ da empresa?
O
que move o sujeito é seu desejo, que para além de uma vontade conhecida, é algo
que se insere pelo pulsar, que desassossega e que deve ser o ponto a ser tocado
para transformar sua posição na vida pessoal e profissional.
Portanto,
o tema ‘gestão de pessoas” não pode deixar de considerar o estudo social e
cultural destes novos tempos. Não é possível submeter o mesmo olhar a estes
novos sujeitos que surgem na atualidade. Estamos em tempo de aprender sobre
este novo “modus operandis” de ser, contudo, já é possível olhar e agir de
outras formas a partir do entendimento do sujeito ilimitado. Não para tentar
restaurar a um modo anterior, mas sim, para poder encontrar o melhor caminho de
relações e de trabalho.
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