ELIZANDRA SOUZA

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A visão psicanalítica diante da abordagem coaching

A visão psicanalítica diante da abordagem coaching



O coaching é uma nova modalidade de subjetivação. Talvez, por isso, as pessoas confundem tanto o coaching como uma abordagem terapêutica, porém não é assim que este processo funciona. Diferente da psicanálise, que permite uma ampliação de visão e posicionamento, o coaching trabalha de forma pontual, portanto não pode ser considerado uma forma de terapia.



Contudo, aproximando-se da psicanálise, o coaching utiliza a palavra como elemento principal no seu processo, com uma abordagem muito mais diretiva, mas ainda colocando o cliente a falar sobre suas questões, suas dúvidas, suas dificuldades, sobre as coisas que o incomodam ou inquietam.



Neste momento, onde a fala está totalmente presente, as questões pessoais podem aparecer, e quase sempre isto acontece, desviando o foco do trabalho do coaching. Mas é uma grande oportunidade de perceber a emergência do sujeito. Talvez, por isso, as pessoas confundem tanto o coaching como uma terapia.



Porém a história e a forma de trabalho, do coaching, da terapia e da psicanálise não podem ser confundidos. Mesmo um profissional que trabalhe com ambas abordagens, deve sempre esclarecer aos seus clientes e pacientes o quê exatamente significa cada modalidade, qual a forma de trabalho e, principalmente, quais os limites entre elas.



O coaching, a partir dos anos 80/90, se expandiu e aumentou em número de profissionais e de clientes. Muitos procuram os profissionais coaching ( que significa treinador, num sentido de conselheiro ou facilitador para encontrar soluções de problemas e clareza de potenciais) para diagnosticar e avaliar situações e problemas, e definir as ações possíveis.



Esta procura tem gerado um aumento de profissionais sem ou com pouca qualificação, indicando o aproveitamento da demanda do mercado e a não definição do tipo de profissional que deve ser procurado para este trabalho. Algumas pessoas se utilizam de uma miscelânea de instrumentos e diplomas, mas que não dirigem especificamente sua própria profissão, sendo incoerente com a posição de um coaching.



Esta modalidade de trabalho tem suas especificidades e não pode ser tratada com a simplicidade que comumente encontramos. Este trabalho exige do profissional o conhecimento nas áreas de recursos humanos, administração, psiquismo, comportamento e, muitas vezes, economia. Isto porque, o trabalho é direcionado para a melhor performance profissional de homens e mulheres, que já atuam ou que queiram posicionamentos em cargos ou níveis mais elevados dentro de suas empresas



Algumas situações demandam mais o trabalho de um coach:

promoções que não chegam;
jornadas de trabalho excessivas (principalmente nas jornadas das mulheres);
paralisia na carreira;
dificuldade de relacionamentos com superiores ou funcionários;
manter empresa própria ou seguir carreira;
dificuldade em liderar ou distribuir tarefas;
percepção de não reconhecimento;
preocupação com perda de emprego;
falta de desafios;
direção de carreira;
etc.


O coaching permite esclarecimento dos limites do cliente e de suas capacidades, por isso acontece individualmente, diversificando do trabalho de treinamento, mais conhecido nos recursos humanos.



É importante ressaltar que coaching não é terapia, muito menos psicanálise, apesar de muitos profissionais, atualmente, alimentarem esta confusão, tornando o trabalho equivocado e ludibriando clientes. A abordagem coaching tem um objetivo específico, por isso é mais pontual e, principalmente, ligado a questões profissionais. As emergências pessoais devem ser apontadas e deixadas para um outro tipo de trabalho, por exemplo o psicanalítico.



No coaching, a busca é por uma meta, através da exploração do potencial do cliente, visualizando o presente e o futuro. O coaching pode utilizar-se de várias técnicas e métodos, diferentemente da psicanálise, que tem método próprio.



Apesar disso, os conhecimentos teóricos da psicanálise podem ser explorados pela abordagem coaching. Isto porque durante o trabalho analítico, o analisando serve-se de maior subjetivação e maturidade. “A psicanálise nos permite ter uma outra visão sobre a vida, as pessoas e a sociedade. Com a psicanálise temos posicionamentos diferentes. Não nos transformamos em pessoas melhores ou mais boazinhas, mas tomamos mais consciência das coisas a nossa volta, isto é, temos um reconhecimento maior sobre nossos limites e nossas vontades... Tornamo-nos pessoas mais responsáveis pelos nossos atos... temos maior percepção sobre o que fazemos e sobre as consequências de nossos atos, por isso, deixamos de nos culpar desnecessariamente... agimos mais a nosso favor, mas sem prejuízo de ninguém, pois sabemos da nossa responsabilidade.” (Souza, Elizandra)



O profissional coach, que conhece a psicanálise, tem uma ferramenta a mais e mais complexa, mas o bom profissional jamais fará análise com seu cliente durante o trabalho coaching, mesmo porque, o trabalho psicanalítico é mais complexo e longo. Saberá qual o limite entre coaching e análise e deverá pontuar isto ao seu cliente.









Elizandra Souza - Psicanalista, Professora, Diretora da Comissão de Ética do Sindicato dos Psicanalistas do Estado de São Paulo, Escreveu o livro “Aproximando-se da Psicanálise num jogo de perguntas e respostas”.

www.elizandrasouza.com.br

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