As exigências do mundo moderno
fazem com que homens e mulheres se obriguem constantemente à superação de
desafios e obstáculos. E ainda que, se reconheçam como seres humanos comuns,
suas superações visam a total eficiência, intimando-os a se posicionarem como
super-homens ou super-mulheres.
Esta demanda social é fortíssima
para qualquer pessoa, mas quando falamos sobre empresários, executivos ou
outras pessoas que assumem posição de comando, a superação se amplia, pois o
olhar não é individual, se volta para as questões da empresa, dos negócios e
dos colaboradores.
Os empresários e executivos sabem
do valor dado ao lado emocional e psicológico de seus colaboradores e como os
conflitos que envolvem problemas de comportamento e relacionamento são
devastadores para as empresas. São eles que vão gerenciar o funcionamento das
atividades empresariais e o funcionamento das relações de seus colaboradores.
A busca desses homens e mulheres
de negócios é por melhores condições de trabalho para aqueles que dependem da
empresa, incluindo recursos financeiros e benefícios, pois percebem esta
necessidade e visam o desenvolvimento das atividades de forma mais assertiva e
satisfatória.
Hoje, tanto nas seleções como nos
treinamentos, os aspectos emocionais e psicológicos são avaliados e analisados
como condições fundamentais para a manutenção do emprego. Relacionamento
interpessoal, inteligência emocional, negociação de conflitos são temas
recorrentes nos movimentos dos recursos humanos.
Esta carga de ações e pensamentos
exigida do empresário/ executivo, tanto para os resultados dos objetivos da
empresa, como para o planejamento e forma de execução, sem nunca esquecer de
que lidam com pessoas, que também carregam objetivos, comportamentos,
pensamentos e conflitos, ao mesmo tempo que movimenta este empresário/
executivo para o desenvolvimento de seu trabalho, também o afasta de si mesmo e
de seus conflitos internos.
Queremos pensar e dar atenção,
então, para este sujeito (empresário/ executivo), que assume várias posições
dentro da empresa: de comando, liderança, chefia, administração, gerência, mas
também se preocupa com a negociação de conflitos, supervisão da qualidade e
apresentação de resultados, acumulando uma série de exigências, que quando
voltadas para as soluções do trabalho, soluções externas ou dos colaboradores,
consegue dar conta, mas, em geral, não voltam seus olhares para suas questões
individuais.
Este homem ou mulher de negócios
é também um ser de emoções, de alma, que adota os problemas da empresa, dos
negócios, dos colaboradores, mas que não sabe lidar com os próprios conflitos.
Muitas vezes, é envolvido por questões pessoais que não reconhece como
dificuldade ou problema e acaba não podendo resolver. Sem perceber, descontam
em pessoas ou objetos, que diretamente não fizeram nada para eles, como
cônjuges, filhos, colegas, colaboradores, cachorros, trânsito.
As questões mais íntimas, esses
fantasmas ou demônios, surgem para qualquer sujeito e todos sentem certa
dificuldade em assumir que seus conflitos existem. Porém, o empresário/
executivo, por ser a pessoa que sempre tem uma carta na manga para solucionar
problemas, pois ele é o centro das resoluções, tem mais dificuldade de se
perceber numa situação de não saber o que fazer, principalmente, quando este
não saber se pontua no si mesmo, nos seus pensamentos e sentimentos.
O sujeito de negócios é visto
como o equilíbrio da empresa, o ser da segurança, posto num cargo de grande
exigência, não só sobre as questões intelectuais, mas também sobre as questões comportamentais
dos colaboradores, contudo não se dá conta de que é um sujeito comum, que
sente, pensa, necessita, ama, espera.
O empresário não se permite ter
dúvidas; não se permite sentir; não se permite não saber o que fazer consigo e
com o que pensa e sente. Não se permite desconhecer. Sofre, e sofre calado,
mais do que qualquer outro colaborador, pois sofre sem pedir ajuda, sem poder
demonstrar que ali há um ser humano que tem emoções e que também fraqueja.
Por ser considerado e exigido
nesta posição, e por ele assumir esta posição, não se permite pequenos pontos
de interrogação, como se tivesse em constante resistência. Resiste não como
forma de se acreditar melhor do ninguém, não como uma forma de ser arrogante,
mas resiste como necessidade, porque se sua posição for abalada, não é só a ele,
como sujeito, que a desestruturação acontece.
Carrega as dores, as emoções, os
conflitos também daqueles que o rodeiam e mesmo que tente se afastar, a todo
momento é chamado a prestar esta atenção, pois é ele que tem que resolver
quando há necessidade de um novo treinamento, de uma nova abordagem, de nova
solução para aqueles conflitos que estão aparecendo.
Entrar em contato consigo mesmo,
com suas emoções, pensamentos, limitações e com seus desejos mais íntimos é uma
dificuldade que passa qualquer pessoa. Nós não aprendemos a nos enxergar como
sujeitos para além daquilo que é racional. Essa dificuldade é maior para o
empresário porque dele é exigido demais, racionalmente. Olhar para si ou cuidar
de si não cruzam com as ações desses homens e mulheres de negócios.
É comum estas pessoas, sem
perceber, levarem suas questões pessoais para a empresa e vice-versa, quando,
por exemplo, se irritam com mais facilidade; quando têm dificuldade para
resolver algumas questões, onde o que antes era fácil começou a pesar ou complicar;
quando percebem que o que era prazeroso se torna um transtorno, se torna um
desafio grande demais; quando não conseguem motivação, nem para si, nem para
seus colaboradores.
Não têm a consciência de seus
conflitos e fantasmas, mas percebem quando alguns sintomas ficam visíveis, por
exemplo, não tendo paciência, se tornando intolerantes, onde as outras pessoas
sentem receio em
dialogar. Eles se afligem e não sabem como agir, não sabem o
que fazer com que está acontecendo com eles e com as coisas a sua volta. Agem
de forma constante, rotineira, mecânica, sem parar para pensar ou se questionar
sobre o que realmente estão fazendo; sobre se há benefícios ou não naquilo que
fazem; sobre o que sentem em relação ao que fazem; aliás, sobre o que, realmente, sentem. Mesmo porque, quando fazem esta
reflexão sofrem, não têm respostas e se sentem num vazio. Apresentam nervosismo,
inquietação, indisponibilidade, indisposição, falta de sentido, necessidade de
carinho, falta de vontade, constante obrigação a si mesmo, cobrança em fazer,
resolver, empreender.
As pessoas que precisam revolver
coisas demais, não percebem e não diferem o que são questões próprias e o que
são questões externas, pois comumente anulam ou deixam de lado suas aflições,
dúvidas e vontades. Conflitos estes, que não são considerados importantes,
relevantes ou são impróprios para se pensar no momento, surgem em forma de impaciência,
irritação, desatenção, esquecimento, e levam o sujeito a apresentar
comportamentos negativos sem perceber. O cuidado de si é sempre posto adiante.
Cria-se uma expectativa em torno
desses empresários e executivos, numa relação de dependência, mas assumida
somente como a dependência dos outros em relação a eles, de suas ações, de seus
planejamentos e de suas soluções. A responsabilidade é carregada com excessos
de pressão e permeada pela culpa e possibilidade de erro. O peso é da
preocupação, como se a qualquer momento tivesse que tomar uma decisão, que só
cabe a ele fazer, que depende somente dele.
Não é só uma pressão demasiada, mas um sentimento de extração, como se
fosse, constantemente, sugado.
Alguns sintomas como medos,
angústias, palpitações, dores de cabeça, sudoreses, dor de estômago, ansiedade,
nomeados estresse, podem sugerir muito mais que a pressão constante do trabalho
ou o esgotamento mental e físico, ainda que estes, também, sejam sinais de
necessidade de parada; um pedido do corpo e da alma de um pouco de atenção e
cuidado.
Destaco a importância desse
olhar-se e sentir-se. Reconhecer-se como um sujeito comum, que também faz
interrogações sobre si mesmo. E mais ainda, saber e compreender que quanto mais
é assumida e exigida esta posição de administrador, líder, pensador e
solucionador, mais deverá ser o cuidado de si, pois o sujeito não é máquina.