Quando falamos dos perigos que estão no mundo, falamos de perigos para
qualquer pessoa. Mas são nossos filhos adolescentes que nos demandam maior
atenção quando pensamos em questões como anorexia, bulimia, drogas, bebidas,
exibicionismo, anabolizantes e até a automutilação.
Os maiores problemas relacionados a esses perigos é nossa
impossibilidade de perceber, aceitar e buscar ajuda quando eles aparecem. Em
geral, temos a ilusão de que conosco e com nossos filhos nunca acontecerá. Mas
este tem sido o maior erro das famílias, pois no confronto com essas situações
acabam se desestruturando e se tornam incapazes de lidar com as questões que
pareciam tão simples em outros núcleos familiares.
Para entender um pouco mais sobre alguns dos perigos que rondam nossos
filhos adolescentes precisamos saber que eles estão bem próximos e que nossos
filhos estão tão passíveis quanto os filhos dos outros. Quando olhamos o
problema de frente, temos maiores chances de resolvê-los.
Em geral, não damos muita importância para certas questões que nossos
filhos apresentam. Ainda somos tentados a tratar filhos adolescentes como
crianças indefesas. Nossa superproteção, afasta o adolescente de responsabilidades,
mas não é o suficiente para retirá-lo de qualquer tipo de sofrimento.
Acreditamos que suas vidas estão próximas da perfeição, pois não
deixamos que nada lhes falte; não os incluímos nos problemas de casa,
principalmente os financeiros; ficamos à disposição de seus horários e suas
vontades; nos colocamos como grandes amigos e confidentes (o que nem sempre é
recebido da mesma forma pelo adolescente); aceitamos seus erros e os defendemos
quase que incondicionalmente.
Mas, mesmo assim, há sofrimento. Às vezes, um sofrimento que não
encontra lugar para um desabafo sincero, verdadeiro. E mesmo tendo pais abertos
e disponíveis, o adolescente se vê sozinho e perdido nos seus próprios
conflitos internos.
Pela impossibilidade de encontrar palavras ou lugar para dizer sobre seu
sofrimento, seus conflitos e suas dúvidas, o adolescente encontra em certos
comportamentos prejudiciais uma forma de representar sua dor, ao mesmo tempo
que pede ajuda sob o véu da busca do bem-estar.
Assim, adolescentes se envolvem com escolhas que lhes prejudicam e
prejudicam seus familiares. Os comportamentos mais apresentados como
representantes do conflito interno, do sofrimento e, ao mesmo tempo, da
necessidade de pertencer ao grupo social são aqueles relacionados à expressão
corporal, como os transtornos alimentares, o culto ao corpo e a busca
incessante pela beleza. São escolhas comportamentais inconscientes, por isso o
adolescente não sabe responder os por quês, ou dá justificativas que não
contemplam a verdadeira razão de sua atuação.
A anorexia e a bulimia, por exemplo, são comportamentos apresentados
principalmente pelas meninas que precisam lidar com a ansiedade e angústia num
só corpo e no mesmo momento. A anorexia, que se manifesta pela recusa em se
alimentar, ocorre, muitas vezes, sem a percepção dos pais.
Infelizmente, muitas meninas encontram na mãe o exemplo para
desenvolvimento desse transtorno. Mães (ou outras mulheres que rodeiam a
menina) que vivem em função de regimes acabam propagando um ideal de corpo
impossível, mas que a menina tenta reproduzir.
Assim é também com a bulimia, onde o adolescente se alimenta, mas em
seguida tenta se desfazer desta ingestão provocando vômito ou diarréia. Os
meninos também podem apresentar esses transtornos, porém a incidência é maior
em meninas (e mulheres).
Entre os meninos é mais comum o uso de anabolizantes na busca pelo corpo
perfeito. A facilidade em comprar essas medicações em algumas academias,
transforma o adolescente em um grande consumidor. Os meninos frequentam
rotineiramente academias, por isso os pais demoram a perceber que existe um
exagero nos músculos adquiridos.
O uso de bebidas alcoólicas também é uma escolha mais masculina, contudo
as meninas já estão consumindo quase que igualmente aos meninos. O grande
perigo da bebida alcoólica é que sua legalidade faz com que não reconheçamos os
perigos de sua ingestão frequente, principalmente entre os adolescentes. Há
perda da qualidade intelectual e emocional. Em geral, os adolescentes aprendem
em casa e levam para suas vidas social o consumo constante de álcool. Eles se
sentem mais “adultos” por causa do consumo de bebidas alcoólicas.
O uso de maconha também tem se tornado frequente entre adolescentes de
14/ 15 anos. Seu uso está mais relacionado a uma tentativa de parecer superior
perante os outros colegas do que a sensação de torpor, tão anteriormente
divulgada como objetivo no uso da maconha. Ou seja, os adolescentes não buscam
a sensação de afastamento da vida concreta (ou a brisa, como dizem), mas buscam
se mostrar “gente grande”, mais avançado, ou seja, uma forma de parecer mais
que um mero adolescente.
A sensação de torpor, apaziguamento da dor, ou o nirvana é algo
aprendido pela experimentação, porém, ainda que seja secundário, é marcado no
corpo como afetação máxima que pode levá-lo a buscar, posteriormente, outras
maneiras de conquistar a mesma sensação quando a maconha não surtir o mesmo
efeito.
Mas o que tem chamado a atenção de educadores e especialistas é o
comportamento conhecido como automutilação, onde o adolescente se corta na
tentativa de colocar para fora uma dor interna, da qual ele não sabe explicar,
como se a dor do corte fosse “melhor” sentida que o sofrimento interno.
Apresenta-se mais em meninas que em meninos.
No início, os cortes são feitos escondidos, porém, como uma forma de
pedir ajuda, o adolescente vai fazendo cortes mais aparentes e mostrando ao
mundo sua auto-agressão. Infelizmente, é uma expressão de conflitos que
encontra na identificação sua via mestra. Muitos ídolos adolescentes praticam a
automutilação e existem grupos na internet que divulgam e debatem essa prática,
na tentativa de unir os iguais e reduzir o tabu.
Além de todas essas questões que marcam o corpo concretamente, existe um
outro perigo que é aparentemente mais sutil, mas tão prejudicial quantos os
outros. O exibicionismo é alimentado pela sociedade através da internet, pelas
redes sociais. Apesar de parecer inofensivas, as redes sociais exploram as
imagens das pessoas, que vivem no misto exibicionismo e voyeurismo.
Os adolescentes querem aparecer, querem “clicks”, ao mesmo tempo que,
querem ver, querem saber sobre os outros. Usam como artifício de crítica a
comparação e se submetem ao espetáculo social, muitas vezes colocando em risco
sua integridade moral e física.
Aos pais cabe o trabalho de serem pais, de educarem e supervisionarem,
protegendo e responsabilizando. Mas, principalmente, permitindo que cresçam com
valores apropriados e com o aprendizado do reconhecimento de suas limitações.
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