ELIZANDRA SOUZA

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Bulling – relações em perigo

Quando se fala em bulling, a primeira idéia que nos vem à mente é a agressividade, porém quando ampliamos nosso pensamento sobre este assunto vemos que por trás desta agressividade existe um número muito grande de outros sentimentos e emoções, que nem sempre é apreendido pelo discurso daquele que justifica seu ato.

Ressaltamos a influência da educação nestes casos, principalmente, na forma hoje, que se apresentam os comportamentos de crianças e adolescentes. Em todo o mundo, as taxas de prevalência de bullying, revelam que entre 5% a 35% dos alunos estão envolvidos no fenômeno. Porém, o bulling não está ligado somente às atitudes juvenis. Este comportamento hostil também acontece com adultos, muitas vezes como forma de defesa ou proteção.

O sujeito se comporta contrariamente ao que inconscientemente reconhece em si. As atitudes agressivas e hostis com relação aos colegas aparece como tentativa de mascarar seu próprio sentimento de inferioridade. Como animais acuados que atacam, ao invés de se renderem, os sujeitos considerados bullies não encontram outras formas de se posicionarem na vida, diante de pessoas ou situações, senão pela violência. Ele tem necessidade de dominar, de subjugar e de impor sua autoridade sobre outrem, mediante coação; necessidade de aceitação e de pertencimento a um grupo; de auto-afirmação, de chamar a atenção para si. Possui ainda, a inabilidade de expressar seus sentimentos mais íntimos, de se colocar no lugar do outro e de perceber suas dores e sentimentos.

Esta violência assume o caráter etiológico do violar, como se, realmente, apoderasse de algo do outro para assumir como seu. O bullie viola não só as leis, a moral e a disciplina, mas principalmente, viola o sujeito naquilo que ele mais tenta conservar que é o ‘direito’. Direito à integridade física e psíquica. Direito à fala e ao movimento. Direito à opinião, à criação de hipóteses e à discordância.

Por outro lado, sob o arcabouço de seu modo agressivo, existe um ser que sofre. E não sabe nada sobre seu sofrimento, pois ele não comparece após um ato violento. Seu sofrimento é anterior e seus comportamentos agem como um véu, que escondem, abafam e tentam anular sua dor.

Em psicanálise, quando falamos desta dor ou deste sofrimento, não falamos de algo consciente, tampouco que seja algo motivo de pena. Não é algo se pode justificar os atos agressivos, mas sim, aquilo que indica a sujeição, aquilo que diz do sujeito sem ele saber.

Estudar as causas de bulling incluem diversas matérias ou ramos do saber. As perspectivas sociais, educacionais, políticas, econômicas e subjetivas devem ser trabalhadas de forma interdisciplinar para tratar este comportamento, que não é recente, mas é atualmente muito freqüente.

A psicanálise traz mais um ponto de vista. Um novo olhar que atua naquilo que não é dito no discurso do sujeito, mas é produzido por este discurso. Mais do que escutar aquele que sofre o bulling, é preciso escutar o próprio agressor, para quem sabe, possamos entender a dinâmica deste processo de subjetivação.

Lacan, que frisa a idéia da responsabilidade do sujeito: “A verdade que a psicanálise pode conduzir o criminoso não pode ser desvinculada da base da experiência que a constitui, e essa base é a mesma que define o caráter sagrado da ação médica – ou seja, o respeito pelo sofrimento do homem.” (Escritos)


Elizandra Souza
Psicanalista
Comissão de Ética do SINPESP
www.elizandrasouza.com.br

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